Voltar mais uma vez ao Livro de Enoque para trazer à atenção do internauta: uma passagem extremamente interessante na qual as metáforas empregadas referem-se a seres humanos e a anjos. Em termos do Dilúvio, de Noé e da violência e corrupção que assolava a Terra antes do Dilúvio, esse comentário é sobremaneira significativo.
”E novamente, enquanto eu dormia, vi com meus olhos, vi o Céu nas alturas, e eis que uma estrela caiu do Céu, e levantou-se e pôs-se a comer e a pastar entre aqueles bois.
Depois disso vi os bois grandes e pretos, e eis que todos eles trocaram de baia e de pastagens e de companheiros, e começaram a viver juntos.
E, na visão, novamente olhei para o Céu, e eis que vi muitas estrelas descerem e se atirarem do Céu em direção àquela primeira estrela, e essas se transformavam em touros entre aquele gado e pastavam com eles (entre eles). E eu olhei para eles, e eis que todos eles expunham à vista seus membros viris, como os dos cavalos, e começavam a cobrir as fêmeas dos bois, e todas elas ficaram prenhes e pariram elefantes, camelos e asnos. E todos os bois os temeram e deles sentiram pavor, já que eles começaram a morder e a devorar e a escornar os bois. E mais ainda, começaram a devorar aqueles bois; e eis que todos os filhos da Terra começaram a tremer e agitar-se perante eles e a fugir deles.”
Livro de Enoque LXXXVI 1-6
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No Livro de Enoque, no capítulo anterior a esse, há um relato do período histórico da época de Adão até o tempo de Noé. Entretanto, a historia é contada em termos de touros e vacas, vale dizer, homens e mulheres. O texto retrata Adão e Noé como touros brancos e a Eva como novilha e vaca. Caim é um touro preto que foi embora e gerou muitos outros touros e bois.
Na passagem acima reproduzida, os bois e seus companheiros começaram a trocar de pastagens e baias e a viver juntos. Isto é, os descendentes de Caim e Adão e Eva casaram-se entre si. Enquanto isso acontecia, uma “estrela” caiu do céu, levantou-se e pôs-se a comer entre os bois. Trata-se de uma referência a um anjo caído misturando-se com os habitantes da Terra. Depois, essa estrela caída recebeu a companhia de muitas outras estrelas que também caíram do céu. Estas, por sua vez, transformaram-se em touros e pastaram no meio do outro gado (pessoas).
Os membros viris desses entes, segundo o texto, são como os dos cavalos. Há aqui uma semelhança curiosa com os sátiros e certas divindades egípcias e gregas que também tinham membros bem grandes (ou seja, pênis). Existem muitas imagens egípcias antigas preservadas em pedra desde os tempos mais primitivos, que retratam homens com pênis enormes (ver Figuras ). Seriam essas imagens representações dos anjos caídos que desceram no Monte Hermon nos dias de Jared (c. 3.500 a.C.) e que, segundo Enoque, tinham “membros como os dos cavalos”? Eles cobriram, ou tiveram relações com as fêmeas, que ficaram prenhas. E aqui vem a parte interessante. Afirma-se que elas pariram elefantes, camelos e asnos. Em outras palavras, elas não geraram segundo sua espécie, mas produziram mutantes.
“Elefantes”, “camelos” e “asnos” são metáforas relativas aos descendentes das estrelas que caíram do céu, os Nephilim. Todos os habitantes comuns da Terra tinham medo dessas criaturas híbridas. E os elefantes, camelos e asnos começaram a devorar os bois (pessoas) que, por isso, tentaram fugir deles.
Esse é um relato minucioso do primeiro envolvimento procriador dos seres sobrenaturais com as filhas dos homens anteriormente ao Dilúvio. É narrado em linguagem figurada por Enoque, que estava descrevendo ao seu filho, Matusalém, um sonho que tivera. A história prossegue e conta o aparecimento de sete outros viajantes espaciais:
”E novamente, vi como começaram a escornar uns aos outros e a devorar uns aos outros, e a Terra começou a gritar em altos brados. E levantei meus olhos novamente para o Céu, e na visão notei que do Céu saíram seres que eram como homens brancos: e quatro saíram daquele lugar e outros três com eles.
E os últimos três que tinham saído tomaram-me pela mão e levaram-me para cima, para longe do contato com as gerações da Terra, e alçaram-me a um lugar alto, e mostraram-me uma torre elevada bem acima da Terra, e todas as colinas eram mais baixas. E um deles me disse: “Permanece aqui até que vejas tudo que acontece com os elefantes, camelos, asnos, e
estrelas, bois, e todo o resto.”
Livro de Enoque LXXXVII 1-4
Enoque era um descendente direto de Adão de sétima geração. A Escritura diz que ele andou com Deus e, aparentemente, não morreu, mas foi transportado ao céu. Assim diz a carta de Paulo aos Hebreus:
Pela fé, Enoque foi arrebatado para não ver a morte. Não foi achado porque Deus o arrebatara.
Hebreus 11:5
A passagem do Livro de Enoque anteriormente citada parece estar descrevendo esse arrebatamento. Os sete arcanjos vistos saindo dos céus são indicados por Enoque em outro capítulo. A vinda deles à Terra deve-se à violência que está ocorrendo e ao clamor lançado pelas pessoas da Terra. Três dos sete arcanjos tomaram Enoque pela mão e o levaram para outra dimensão.
”E vi um daqueles quatro que tinham saído primeiramente, e ele apanhou aquela primeira estrela que havia caído dos céus, e amarrou-lhe mãos e pés e a lançou num abismo: esse abismo era estreito e profundo, e horrível e escuro.
E um deles sacou uma espada e deu-a aos elefantes e camelos e asnos; e eles começaram a golpear uns aos outros e a Terra inteira tremeu por causa deles.
E eu estava contemplando na visão, e eis que um dos quatro que haviam saído do Céu apedrejou (os), e juntou e recolheu todas as grandes estrelas cujos membros viris eram como os dos cavalos e amarrou-lhes mãos e pés, e as lançou num abismo da Terra.”
Livro de Enoque LXXXVIII 1-3
Isso é uma descrição do aprisionamento dos anjos caídos, os Nephilim, cuja orgia de maldades e violência precipitou o Dilúvio. Esses anjos caídos são então amarrados e lançados ao Abismo. O Apocalipse nos conta que, no futuro, durante os acontecimentos da Grande Tribulação, o poço do Abismo será aberto e gafanhotos de aspecto assustador – e um anjo diabólico – serão libertados. O soberano dessa horda maligna, que em grego é chamado de Apoliom, é claramente identificável como Apolo, um dos Nephilim originais. O Abismo, provavelmente, é Tártaro, aonde o Messias ressuscitado foi para revelar-se aos anjos aprisionados.
No Livro de Enoque, Azazel é identificado como um dos líderes dos anjos caídos. Seriam Apolo da Grécia e Apoliom do Apocalipse outro que não Azazel, o primeiro dos Nephilim a cair? O nome Azazel surge em Levítico 16:8,10 e 26. Esse nome é traduzido por “bode expiatório”, mas em hebraico, Azazel é um nome próprio, e complemento do líder dos anjos caídos.
Enoque descreve o Abismo como estreito, profundo, horrível e escuro, o que coincide com a descrição do Tártaro em 2 Pedro 4: “tenebrosos abismos”; e em Judas 6, 11: “presos eternamente nas trevas”. Enoque nos diz ainda que esse Abismo é um “abismo da Terra”. Isso condiz com a Escritura e também com os infernos ou Tártaro da mitologia grega, e com a morada dos mortos descrita na literatura egipcia.
Todos esses relatos históricos, aparentemente, referem-se ao mesmo local.
Enoque também descreve como os descendentes dos Nephilim, os Titãs e os deuses de Roma e da Grecia, os heróis de antigamente, começaram a brigar e a golpearem-se uns aos outros. Tamanha foi a violência, que toda a Terra tremeu. Mais uma vez, isso reflete a informação apresentada em Gênesis, capítulo 6, de que a Terra inteira estava cheia de violência e que “todos os pensamentos do coração dos homens estavam continuamente aplicados ao mal” (Gênesis 6:5). Foram essa maldade e violência desenfreadas que levaram Deus,(Iahweh, significando "consistindo de quatro letras") é o teônimo hebraico יהוה, comumente transliterado em letras latinas como YHWH. É o nome do Deus nacional dos Israelitas, usado na Bíblia Hebraica) a destruir toda carne por meio do grande Dilúvio. Essa inundação universal é mencionada em muitos textos antigos, como o épico de Gilgamesh, por exemplo, e também se coaduna com a história sumeriana do Dilúvio.
Casamentos entre humanos e deuses são uma característica comum das mitologias ugarítica, hurriana e mesopotâmica, bem como dos anais históricos gregos, romanos e egípcios. De fato, a figura heróica de Gilgamesh era tida como derivada de análoga união divina, o que lhe proporcionara grande força física, mas não imortalidade.
Vale mencionar que em textos ugaríticos, o termo “filhos de Deus” é empregado para descrever membros do panteão divino. E os mais primitivos escritores cristãos, como Justino, Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Orígenes, bem como Josefo (Antiguidades Judaicas 1:31), acreditavam que os “filhos de Deus” eram realmente anjos.
Assim, o Livro de Enoque é enfático em seu testemunho da união entre seres sobrenaturais malignos decaídos e mulheres humanas comuns. E também corrobora os relatos, em outros lugares da Bíblia, relativos à imoralidade e violência que se seguiram, perpetradas na Terra pelos descendentes dessa união diabólica. A lei do Antigo Testamento, que enfaticamente condenava o cruzamento de espécies, deixa claro que essa união era um erro. Tratamento semelhante da agricultura também era proibido (Levítico 19:19), assim como copular com animais, que era um delito capital.
Em outras literaturas e tradições profanas, as uniões entre deuses e humanos são comuns, e os gigantes da mitologia grega eram tidos como o produto de casamentos entre seres divinos e terrestres. Tanto no Livro da Sabedoria quanto no Livro de Baruque, que geralmente não são considerados parte do cânone das Escrituras, encontramos menção dos gigantes e heróis da época antediluviana.
Desde o princípio, quando pereceram os soberbos gigantes, a esperança da Terra inteira refugiou-se numa barca, que pilotada por Tua mão, conservou para o mundo a semente das novas gerações.
Livro da Sabedoria 14:6
O versículo acima refere-se à destruição dos “gigantes”, à esperança oferecida para fugir ao cataclismo por meio de uma embarcação (a Arca) e à preservação da descendência da mulher (Gênesis 3:15), aqui chamada de “semente das novas gerações”.
Havia os gigantes, aqueles homens célebres que existiam desde o começo, homens de grande estatura, destros na guerra. O Senhor não os escolheu, e eles também não encontraram o caminho da sabedoria, e, portanto, pereceram.
Baruque 3:26,27
Depois de ter relatado a história do Dilúvio e as façanhas dos Nephilim, Enoque passa a fazer várias profecias sobre Israel. Também descreve visões de lugares e acontecimentos futuros, e viagens a esses lugares. Muitas dessas visões são de natureza apocalíptica e corroboram informações encontradas no Apocalipse e em outros lugares das Escrituras. Enoque nasceu no ano de 3.382 a.C., de maneira que o Livro de Enoque, escrito há mais de cinco mil anos, é um dos mais antigos manuscritos que sobreviveram até o presente. Não é verdadeiramente extraordinário que esses textos antigos, escritos há tanto tempo, digam respeito a acontecimentos que ainda vão ocorrer?